O mercado da bola celebra a bonança: as casas de apostas superaram bancos e indústrias, injetando mais de R$ 1,1 bilhão na elite do futebol. Mas a euforia esconde uma distorção grave: enquanto lucram bilhões com a paixão popular, o setor ainda opera em um vácuo fiscal.
Por Redação BNB | Em 04/12/2025 — 08:30
A camisa do seu time nunca valeu tanto, mas o custo social disso pode ser impagável. Um levantamento exclusivo da agência Jambo Sport Business revela que os patrocínios máster dos clubes da Série A do Brasileirão saltaram 125% em apenas dois anos, saindo de R$ 496 milhões em 2023 para ultrapassar a marca de R$ 1,117 bilhão em 2025.
A corrida do ouro é liderada pelo Clube de Regatas do Flamengo, que fechou um contrato recorde de R$ 268 milhões com uma única casa de apostas para a temporada. Um aumento de 215% em relação ao que faturava dois anos atrás. O avanço agressivo das “bets” provocou uma debandada de patrocinadores tradicionais, como bancos e indústrias farmacêuticas, que não conseguem competir com o poder de fogo financeiro da jogatina.
O Paradoxo Fiscal: Lucro Privado, Prejuízo Público
Enquanto o dinheiro jorra para os cofres dos clubes, os cofres públicos permanecem vazios. O setor opera hoje em um cenário de imposto zero na prática, agravado pelo fato de que a legislação que previa a cobrança efetiva foi derrubada no mês passado, criando um “paraíso fiscal” dentro do futebol brasileiro.
Na tentativa de corrigir essa distorção, o senador Alessandro Vieira (MDB-SE) apresentou nesta quarta-feira (3) uma nova proposta na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O relator propõe a criação da CIDE-Bets, uma taxa de 15% sobre o setor, que poderia arrecadar até R$ 30 bilhões ao ano para financiar a segurança pública.
“A distinção é vital”, argumenta o relator, que tenta vincular o lucro das apostas ao combate do crime organizado, propondo que o dinheiro financie a estrutura policial e o sistema prisional.
Lente BNB: Quem paga a conta?
A explosão das bets no futebol brasileiro não é apenas um fenômeno de mercado; é um mecanismo de transferência de renda às avessas.
O dinheiro que infla os contratos milionários dos clubes sai, majoritariamente, do bolso da classe trabalhadora e da juventude periférica, seduzida pela promessa de dinheiro fácil em um país de oportunidades escassas.
Ao permitir que esse volume colossal de dinheiro circule sem a devida taxação, o Estado brasileiro valida um sistema onde o lucro é privatizado por cartolas e empresários de tecnologia, enquanto as consequências sociais — do vício em jogos à falta de recursos para segurança — sobram para a base da pirâmide.
A proposta de taxar as bets para financiar a segurança pública é um passo, mas chega com atraso. Por enquanto, o placar é claro: Bets 1 bilhão x 0 Sociedade.