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Do Brasil, acompanhamos o feminicídio que mobiliza Moçambique por justiça

Caso reacende o debate sobre violência contra mulheres e a busca por justiça em Moçambique.

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Quitéria Guirengane, do Observatório das Mulheres, alerta para a impunidade no país.

A família de Sabina Filipe Manuel, jovem moçambicana de 21 anos assassinada em dezembro de 2019, segue há cinco anos aguardando justiça e o direito a um funeral digno. A estudante tinha saído de Nampula rumo a Lichinga para passar as festas de fim de ano com a família, mas desapareceu ao pernoitar na estação ferroviária de Cuamba. Seu corpo foi encontrado dez dias depois, às margens do rio Muanda, em avançado estado de decomposição e com sinais de violência.

Apesar da detenção inicial de um suspeito — que tinha o celular da vítima — ele foi libertado antes do julgamento, e o processo praticamente não avançou. Segundo os familiares, o Tribunal Distrital de Cuamba chegou a remarcar audiências, mas nenhuma testemunha essencial foi ouvida, e não houve mandados de captura após a fuga do acusado. A família relata falta de comunicação e abandono do caso por parte das autoridades.

Por ordem policial, Sabina foi enterrada às pressas perto do rio, sem velório, porque não havia condições para a transladação. Desde então, a família luta para levar os restos mortais para Lichinga, sua terra natal. A lei moçambicana só permite a transladação após cinco anos — prazo que acaba de ser cumprido — mas o processo burocrático segue lento e dependente de autorizações municipais e judiciais.

Organizações de direitos das mulheres alertam que o feminicídio cresce no país e que a impunidade alimenta a violência. Entre janeiro e setembro de 2024, Moçambique registrou 43 feminicídios e 42 violações sexuais, segundo o Observatório das Mulheres. Para a entidade, a demora na investigação e a ausência de julgamentos reforçam a sensação de que agressores permanecem livres.

A psicóloga Quitéria Mabasso avalia que a falta de respostas impede que a família faça o luto: “Sem justiça e sem um enterro digno, o sofrimento se renova”.
Enquanto isso, Felisbela Manuel, irmã de Sabina, insiste no que repete há cinco anos: “Parece que querem que a gente esqueça. Mas não vamos. Queremos justiça.”

Matéria originalmente publicada pelo portal SAVANA de Moçambique (https://savana.co.mz/?p=8902) e editada por Black News Brasil para contextualização e clareza.

Por: Redação Black News Brasil

Criador e editor do Black News Brasil, Adriano Silva dedica o projeto a amplificar as pautas que afetam o povo negro e revelar como elas moldam nosso cotidiano, sempre em diálogo com a África e suas narrativas.

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